15 de set. de 2008

Fichamento do Livro "Vida e Morte da imagem: uma história do olhar no Ocidente"

DEBRAY, Régis. ; Vida e Morte da imagem: uma história do olhar no OcidenteTradução de Guilherme Teixeira – Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

Para Régis Debray (1993), a história da imagem não se confunde com delimitação dos períodos históricos (Antiguidade, Idade Média, Moderna, etc), mas segue uma temporalidade mais radical, combinando aceleração histórica e dilatação geográfica. Tem se, portanto, segundo Debray três midiasferas (logosfera, grafosfera e videosfera) que comportam a evolução técnica do homem e podem esclarecer sobre a trajetória da imagem no Ocidente. A logosfera se estenderia da invenção da escrita à da imprensa. Também chamada de era do ídolo, a imagem representa um tempo imóvel, um mundo desconhecido. À grafosfera vai da imprensa a TV à cores, chamada de era da arte, momento em que as figuras começam a apresentar um certo movimento. E por último à videosfera, a era do visual, época em que vivemos, na qual o tempo é pura rotação. De forma resumida, pode-se dizer que essa classificação representa um “Alargamento dos espaços de circulação. O ídolo é autóctone, opressivamente vernacular, enraizado em um solo étnico. A arte é ocidental, camponesa, embora circuladora e feita para as viagens (Dürer, na Itália; Leonardo, na França, etc.). O visual é mundial (mundovisão), concebido desde a fabricação para uma difusão planetária” (DEBRAY, 1993, p. 207/208). Nessa perspectiva o autor irá ao longo do texto ressaltar as peculiaridades de cada era, salientando ainda, o fato de que nenhuma idade do olhar exclui a outra, mas justapõe-se uma na outra.
1. Era do ídolo – signo indicial – Logosfera
· Época após a escrita;
· Transição do mágico para o religioso;
· Era mais profunda e radical, na qual o homem transmite uma relação de distância e afastamento com a imagem;
· O ídolo é solene, heróico e eterno, algo sagrado que deve ser cultuado, pois é um fragmento ou vestígio do objeto;
· A imagem é vidente, pousa o olhar de Deus sobre os homens, é sobrenatural. Seu poder não está em sua visão, mas em sua presença;
· A imagem é santa com significação coletiva e igualitária, não é dotado de autor nem de possuidor, seu olhar vai além da materialidade visível do objeto;
· O ídolo é conservador, receia a inovação. Só existe um artista que é Deus.
2. Era da arte – signo icônico – Grafosfera
· Estende-se da imprensa à TV a cores;
· Transição do teleológico para o histórico, ou melhor, do divino para o humano como centro de referência. Passa do sacral para o laico.
· A arte é uma pintura “à base de mitos”, que produz uma obra edificante, midiática e imortal, tendo um valor artístico e tornando-se um objeto de prazer;
· A obra de arte é um produto da liberdade humana;
· A imagem é representativa (ilusória), segue um modelo antigo, porém inventa e renova a herança. Autônoma em relação à religião;
· A imagem é uma obra, visível ao espectador que possui o conhecimento prévio;
· A iconicidade da imagem guarda relações de aparência com o objeto original, assemelha-se, mas não é;
· A época da arte, a imagem em vez de sujeito, fica sendo apenas objeto, na qual coloca o homem por detrás do olhar;
· O espectador agora é o possuidor da obra, o quadro privatiza. O reino do colecionador é individualizado, socialmente mais fechado, a imagem, não é, portanto destinado a todas as criaturas, como ocorria na era do ídolo.
3. Era do visual – signo simbólico – videosfera
· Época após o audiovisual;
· Transição da representatividade para a simulação (computadorizada); do histórico para o técnico;
· No visual a pintura é “a base de códigos” tomando como referência o mito anterior, sendo assim o espectador reconhece e capta a informação transmitida pela imagem;
· A imagem não é mais eterna, imortal, agora se transforma em acontecimento, em uma inovação que promove espanto ou distração;
· O artista produz a obra, através de técnicas, portanto não cria nem venera. Essa produção, no entanto está subordinada a esfera econômica que decide a respeito do valor e da distribuição da imagem. “É aquele que paga a orquestra que escolhe a música”;
· A era do visual está relacionada com o símbolo, na medida em que não tem nenhuma relação analógica com o objeto o qual simboliza, a referência é ela própria;
· No regime visual, a arte volta ao ponto donde partiu, do tudo simbólico a uma busca desesperada do índice.

2 comentários:

Unknown disse...

Como posso encontrar este livro em Portugal, sem ter que mandar do Brasil:

DEBRAY, Regis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no Ocidente. Petrópolis, Vozes, 1994,374 páginas.

Lais Castro disse...

Este livro está com edição esgotada há alguns anos. Já o procurei por toda parte, inclusive em Lisboa. Penso que devemos enviar mails e mais mails à editora, pedindo uma reedição.